segunda-feira, 23 de abril de 2018

Eis-me aqui (315)

Eis-me aqui
Eu não sou ninguém
Eu não tenho nome
Sou distinguida por minha c(d)or
Por meu sexo e sexualidade
Por minha vulnerabilidade

Eu não tenho voz
Emudecida pela mordaça
Eu não tenho mãos para alcançar
Eu não tenho pés para caminhar

Eu não tenho rosto
Eu não tenho gosto
Eu não mereço amor?

Eis-me aqui, o teu cordeiro
A lutar, a lutar, a lutar

Emudecido que estou, não me calo
Amordaçada que estou, não paro

Subtraída, me multiplico
Estou em cada rosto tinto
Em cada uma que carrega, que gesta, que gera

Não me calo
Não me calam
Não me param

Eis-me aqui em ti.